liceomutante
Fai
dous anos Antez deixounos coa boca aberta cando presentou o seu
proxecto Continuum no Liceo, ademais tivemos a sorte de pasar uns días
con el.
A experiencia do Continuum fora tan alucinante que cando nos preguntou
de repetila este ano non o dubidamos un segundo.
Liceomutante 01/2018 en Galicia.
Antez / Gustavo Costa / Henrique Fernandes / João Pais Filipe / Steve
Hubback.
Viagem psicadélica
texto e fotografia João Ricardo
No passado dia 5 de Fevereiro, a Sonoscopia apresentou o trabalho
desenvolvido por um quinteto formado por três portugueses, um francês e
um galês numa residência artística de três dias nas instalações do
Porto daquela associação. Só faltou a água para termos todos os
elementos reunidos.
Logo ao chegarmos à acolhedora sala onde se realiza grande parte dos
espectáculos da Sonoscopia fomos surpreendidos. Estava repleta de
parafernália. Pouco espaço sobrou para o público, que teve de se
amanhar à volta dos músicos.
Numa das extremidades do rectângulo, Gustavo Costa fez uso de um
instrumento composto por molas metálicas esticadas na vertical, um
“laptop” acústico (pequena caixa de madeira cuja assemblagem concentra
múltiplas possibilidades sónicas), um “laptop” convencional para
processamento de sinal áudio e duas placas metálicas de grandes
proporções. Ao seu lado, João Pais Filipe fez soar os pratos e gongos
por si manufacturados.
Na outra extremidade, o galês Steve Hubback - cúmplice de Pais Filipe
na forja - tocou num “kit” cuja estrutura em galhos de árvore e pratos
em forma de dragão (ou com padrões cósmicos) nos remetia para um
universo fantástico. Henrique Fernandes concentrou-se em areia, escovas
de arame e bolas de matraquilhos sobre ardósias e vidros. A figura
central foi o francês Antez, que circulou continuamente à volta do seu
bombo disposto na horizontal, ao centro da sala.
Na margem do seu percurso encontrava-se um estendal com o que parecia
ser um arsenal de instrumentos da mais sofisticada tortura: varas
metálicas com pegas extravagantes, tubos metálicos multiformes com
orifícios, molas de amortecedor com pegas de madeira adaptadas, pratos
de bateria, funis de toda a forma e feitio, ossos de borracha, etc.
Todos estes objectos ressoaram e fizeram ressoar as peles
permanentemente aquecidas por um holofote colocado por baixo do bombo.
Antez foi seleccionando o que pretendia usar à medida que ia passando
pelo estendal, numa das suas muitas e hipnotizantes voltas, para logo
deixar cair num cobertor esticado no chão o que já não lhe servia o
propósito.
A riqueza tímbrica e dinâmica deste concerto foi soberba! Do começo,
com sons tímidos de escovas nas ardósias e nos vidros, dos arcos de
violino friccionados em pratos e gongos ou cordas, das molas excitadas,
passou-se para um plano mais forte e estridente - sem nunca ferir. As
percussões iam pontuando sobre os “drones” sacados do bombo e a
atmosfera onírica / cósmica / tribal / ritualística ia-se adensando. A
julgar pelo olhar vago do público, estaríamos todos numa espécie de
viagem catártica ou psicadélica, só acordados por algum som inusitado,
tipo bolas de matraquilhos a moerem areia numa lousa escolar, ou pela
curiosidade de se perceber a sua proveniência. Momentos houve em que
ambientes industriais ou situações de “suspense” foram evocados, de
forma natural.
No final desta “montanha-russa” ficou o silêncio, essencial, longo até
ao limite do confortável, só interrompido pelas palmas e pela humildade
desconcertante de Antez, que perguntava aos companheiros e ao público
se podia tocar mais. A vontade de todos consumou-se numa segunda
abordagem mais vigorosa e igualmente estimulante. À terra (areia,
pedras), ao ar (meio físico de propagação do som) e ao fogo
(representado pelo ferro forjado), só faltou a água para este ser um
concerto “elementar”. De facto, água não meteram os cinco músicos
reunidos.
https://jazz.pt/report/2016/02/08/viagem-psicadelica/
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...
Antez é um músico de projecto, propondo uma exploração da percussão que
passa pelo interior do som...
ZDB
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Antez:
“Pour”
Antez / Seijiro Murayama: “Antez & Seiji”
... Antez vem ganhando nome nas áreas da improvisação que não se
conformam com os modelos instalados da “música improvisada”, etiqueta
que tende a definir um fim e não um meio... E isto não obstante ser um
percussionista, só muito ocasionalmente processando os seus metais e
peles por via electrónica, e tendo como parceiros mais frequentes
instrumentistas acústicos... É com uma bateria e algumas extensões que
surge nestes dois discos, “Pour” a solo e “Antez & Seiji”
juntamente com Seijiro Murayama, antigo baterista dos Fushitsusha de
Keiji Haino. No primeiro, Antez faz uma abordagem concretista da
percussão, com um trabalho de pratos que prefere os sons contínuos e
uma especial atenção pela minúcia das texturas, mas já o que faz com
Murayama no outro CD é substancialmente diferente, dadas as
características pessoais do seu interlocutor... revelando uma
perspectiva mais impactante, senão mesmo rítmica, dos acontecimentos.
Trata-se, pois, de um encontro de músicos com distintos percursos e
noções, um introspectivo e minimalista, o outro muito físico, e é
precisamente a não-concordância das respectivas visões que torna “Antez
& Seiji” tão empolgante.
Rui Eduardo Paes